quarta-feira, 10 de junho de 2009

Carta a Zininho!


Eu estava no Terminal esperando o ônibus (e deu tempo para ler um jornal inteirinho!), quando vi a foto da Claudinha Barbosa no jornal O Carona, com uma carta sua em homenagem ao pai. Claudinha é uma pessoa linda, iluminada, alegre, e eu sou muito feliz por ter passados dias (e noites) muito felizes ao lado dela. Essa grande amiga da nossa família só poderia ser filha do Zininho mesmo. Se estivesse vivo, hoje, teria 80 anos. Para quem é manezinho, nativo ou de coração, falar no nome do Zininho é de encher os olhos de lágrima. Ainda tive o prazer de conhecê-lo em uma das muitas visitas que fiz à casa da Claudinha, ainda quando Zininho era vivo. Ele foi o autor do "Rancho de amor à Ilha", escolhido em 1965 como hino oficial do município de Florianópolis, em um concurso. E foi dele que ganhei o disquinho com o hino e a ponte na capa...foi uma tarde emocionante aquela! Bom, teria o dia todo para falar aqui do Zininho e da Claudinha...A questão é que eu chorei quando li a carta porque duas emoções fortes tomaram conta de mim: a da homenagem da Claudia à morte do Zininho e, como boa manezinha, a saudade da Floripa que Zininho já viu começar a ser destruída há 11 anos!!! Onde vamos parar, grande poeta...se estivesses aqui, me entenderias!

"Oi, pai! Cá tô eu aqui, te escrevendo pra te contar as novidades, 10 anos depois... Por aqui tá tudo indo e lindo como sempre. Algumas coisas já foram melhores, mas tbém já foram piores, então, digamos que estamos vivendo um tempo de "equilíbrio". Um tempo de juntar tudo o que fizemos de certo com o que fizemos de errado e tentar achar a medida certa. O problema é que por aqui tudo muda muito rápido e, quando achamos a medida certa, temos que refazer a fórmula.... Calçamos as estradas, mas debulha a chuva e lá vão-se nossos asfaltos, rachando em verdadeiras crateras... Com as crateras, nossos amortecedores. Vendemos nossos terrenos, e neles contróem novas casas, novos imóveis, condomínios gigantes, resorts, mas não temos onde depejar os esgotos... e lá se vão as nossas praias. Fizemos mais uma ponte, mas investimos mais em propaganda p/ chamar os turistas do que em estrutura. Resultado: no verão chegam nossos amigos, os amigos dos amigos, os primos dos amigos, as sogras, noras e cunhados então, nem se fala... Aí todo mundo quer ir pra Barra da Lagoa, Joaquina, Praia Mole na mesma hora. E aí, a Avenidinha das Rendeiras.. tadinha. Rendeira mesmo que é bom. lá passa longe! O norte da Ilha virou moda: Praia Brava, Jurerê e Santinho eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeenchem de gente: TODOS vão e voltam na mesmíssima hora - a não ser que arme uma tepestade mais cedo, aí é aquela correia! Sai todo mundo correndo da chuva e a SC-401 transborda de carros. Resultado: horas e horas, quilômetros e quilômetros de fila, até chegar em qualquer lugar. Mas olha, pai... ainda que esteja complicado viver com essas dificuldades típicas de crescimento desordenado, mais difícil ainda é viver longe daqui. Vontade até dá, sobretudo no verão.... mas isso é praticamente impossível! Então, nós que aqui estamos, aproveitamos esse "tempo de equilíbrio" para dar o nosso melhor, p/ tentar melhorar, acertar, crescer, evoluir. Por vezes brigamos, mas sempre é por uma boa causa. Queremos Florianópolis grande por dentro e por fora: corpo e espírito, natureza e estrutura, razão e paixão. Queremos nossos mares, nossas ruas e nossos lares sãos e salvos para o futuro. E 'sãos e calmos' para o presente. Quanto à mim, ainda tô na Câmara: lá se vão quase 23 anos... Mas olha, pai, nunca fui tão feliz aqui! Ganhei a oportunidade de desenvolver um trabalho muito legal, muito importante e muito bonito, onde registro a relação de algumas pessoas com Florianópolis. Algumas pessoas, aliás, muito bacanas - nascidas aqui ou não, posto que hj somos minoria e nunca estivemos sempre certos, né? Pessoas que vêm para acrescentar, para somar, escolhidas à dedo, e que, como nós, trabalham dia-a-dia por uma cidade como aquela que tu deixastes, com muito orgulho, registrada no teu Rancho de Amor à Vida: "Andar pelas ruas da minha cidade, sem ter que seguir e sem ter que voltar / Curtir o sol, o céu e o mar / Camisa aberta no peito, e no coração muito amor pra dar!" Ai que saudade, pai...Aliás, falando em saudade, ou em cidade, - tanto faz -, que SAUDADE que eu tenho de passear de jipe contigo na Ponte Hercílio Luz. Saudade de tomar banho de mar na Praia da Saudade (visse, quanta saudade tem no texto?). Saudade de encontrar o seu Hélio Lange passeando de azul e branco (e casaquinho vermelho - ele era dautônico...) com seu canarinho de manhã rumo à primeira brahama do dia. Saudade de pegar siri no trapiche do Ataliba, lá no Saco da Lama (a gente deixava o jereré e quando puxava vinha uma penca, lembra?) Saudade de comprar cardosinha limpinha na peixaria do Ori. Saudade de espetar ouriço no pé e caçar cavalo marinho lá na Praia da Palmeirinha (aquele cavalo marinho a mãe tem guardado até hoje!). Saudade do Ponto Chic, do Ray Charles, da Pandorga andando sem calcinha no mercado, da Lurdinha da loteria, da nega Tita na escadaria da catedral e do Senador Alcides. Saudade do Miramar que eu nem conheci! Saudade do teu rádio ligado e da voz do Zigelli transmitindo o "Seqüências a Modelar. Saudade da Marisa Ramos e do Fenelon no nosso jornal do meio dia. Saudade da Neide. Do Tito. Da Ieda. Saudade do Caruso com seu roupão de seda vinho ouvindo tango e fumando charuto. Saudade do Joãozinho de Assis. Saudade do Lira, do carnaval do 6 de janeiro, do Penhasco, do Limoense e até do 12 de Agosto, que eu sempre entrava de bicão! Saudade de chupar laranja na Festa da Laranja. Saudade do Festival de pandorga. Saudade da turma da Mauro Ramos e da turma de Coqueiros. Saudade do cheiro do teu cigarro e da música que compunhas girando com o indicador gelo do teu whisky que batia no copo de cristal. Aquele som era incrível, uma verdadeira sonfonia! É pai, que saudade... Saudade da tua colônia Contouré quando fazias a barba. Saudade até da tua ranzizice do final dos teus dias quando a gente queria abrir a janela e tu não deixavas. E ainda dizia: "_Não abre essa janela que eu não quero ver o que tão fazendo com a minha cidade!" É pai, já foi melhor. Mas tbém já foi pior... Agora, de uma coisa tu podes ter certeza: TUDO o que estamos fazendo agora é resgatar o que temos de melhor e melhorar o que há de ser resgatado um dia. E tudo é pra um futuro muito próximo, pq o tempo não tá dando trégua! O futuro já é agora, pai... E é neste futuro que queremos viver no "pedacinho de terra" que deixastes registrado com tanto amor e orgulho! Tua filha que te ama, Cláudia Barbosa."

Assista aqui ao Vídeo produzido por Cláudia Barbosa para a Sessão Solene em homenagem aos 80 anos de nascimento do Poeta Zininho, na Câmara Municipal de Florianópolis, em 18 de maio de 2009.

Um comentário:

Claudia Barbosa disse...

Meu Deus.. chorei de novo.
Obrigada Paulinha, Babi e "minha" família Balbis.
AMO VOCÊS!

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